domingo, 6 de fevereiro de 2011

Maturidade

Pelas férias eu o conheci, sotaque carioca, roupas de jovem e um gosto por sorvete. Não deveria tê-lo encontrado naquela tarde de calor. Eu era capaz de sentir-lhe os olhos em mim como uma criatura rara e fácil de aproximar. Houve um primeiro olhar entre o sorvete de goiaba e o sorriso aberto. Eu me apoiei nisso por não gostar de falar.

E em meio aos sabores da tarde se indo, ele se aproximou e veio de vez. Estava certo de tudo. Meus olhos o buscavam. Não descrevo em palavras as feições dele. Era um homem de estatura alta, magro, bonito e simpático. No queixo trazia uma barba de Lula e se dizia professor de Filosofia. As mãos dele ficaram tão bem acomodadas nas minhas que os presentes até se esqueceram momentaneamente das delícias da rua e nos olharam.

Não tardou muito eu conversava tão despreocupada de minhas convicções de pudor que ele encontrou todas as facilidades para me levar a um banco de praça. As mãos em meu corpo. É certo que eu quis e desejei sentir aquela boca em meus seios. Declaro. De que me queixo? Muda-se, assim de repente, de virgem para mulher? Queria, acaso, ser lembrada no dia seguinte como alguém especial? Lembro-me dos beijos e das palavras carinhosas. Mas a sensação de ser tocada pela primeira vez guardo para meu diário.

Estou livre de um exame de consciência. É isto que a maturidade faz com as pessoas. Não dá para desistir de seguir, mas continuar. E o dia alvoreceu depois do acontecido. E vai continuar alvorecendo. A todas as perguntas que me faço, encontro a expressão de uma mulher... E fico sossegada.