sábado, 8 de janeiro de 2011

Caçadas


Seu Chico é amigo de um tio-avô meu e, se me lembro bem, sempre fora de contar causos tanto houvesse ocasião.
Na penúltima sexta-feira do ano de 2010, tive de ir com minha avó visitar o citado parente, que estava com uma virose e como já tinha idade avançada, estava deixando a família preocupada. Passamos lá umas duas noites, tempo suficiente para se saber de tudo da fazenda, inclusive dos novos causos de seu Chico.
Por volta de umas 17h, ele chegou. Sentou num tamborete, perguntou a meu tio se podia acender um cigarro, e tendo sido negado, ficou calado por uns minutos assuntando de nossa conversa sobre os destinos dos parentes. Minutos após, não se conteve e puxou esta história de um primo dele.
Contou que um filho de sua irmã mais velha tinha ido caçar no meio da caatinga. Era pelo mês de novembro e só havia uns mandacarus e uns pés de ameixa sem folhas. Então, o primo resolvera ir para as bandas de um antigo riacho nos terrenos de Seu Doca Fortes.
_E num é que havia uma faveira ainda com as favas? “Pois sim senhor! Aqui deve de ter bicho de noite”, ele pensou e subiu pro alto do pé.
Assim se passaram as horas. Veio uma coruja e piou.
_O primo se assurtou e caiu de uns quatro metros de altura, se estatelando no chão! _
Minha mãe gritou; “Ai, meu Deus!” e seu Chico se endireitou na cadeira para dar um ar de quem conta algo verídico e de muito sofrimento.
_ E daí, Chico, como acharam teu primo? _ Falou ansioso o irmão de vovó.
_ O homem passou a noite lá morrendo de dor e frio e só foi encontrado ‘proque’ tinha bala na arma dele. Quando ouviu o cachorro latindo deu um tiro pro alto...
_Cachorro? Que cachorro, Chico? Tu tá aumentando a história_, comentou um dos caboclos da fazenda.
_Eu num falei que ele tinha levado o cachorro dele? Pois o ‘bichim’ passou a noite velando o dono e de manhã foi pedir ajuda. Cachorro assim é que é ‘bom de se’ ter para ‘cumpanheiro’ de caça.
Minha avó quis dizer algo, mas se conteve. Notei pelo modo de ela levantar arrumando a saia do vestido. Contudo, apenas perguntou como o homem estava e se tinha sido sério a queda.
Num tom de quem não sabe se agradou a conversa, seu Chico falou que o primo quebrara uma perna, mas que já fora atendido num hospital da capital do estado.
Depois dessa, a noite correu sem grandes causos...

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