sábado, 8 de janeiro de 2011

Um caso de línguas


A mulher cuidava de varrer o chão da varanda. O carteiro entregava  cartões de Natal. Ela o recebeu com um sorriso feliz, com vapores nos olhos e palavras vivas de cumprimento.
A manhã inteira cuidando do portão, com medo de ser esquecida. O envelope entre as mãos ansiosas e o som dos passos na casa. Não há nuvens escuras no céu que não seja de prenúncio de chuva. E um aroma quente das rosas no jardim contíguo ao quarto.
Há um silêncio de agasalhar a alma nos gestos. Todo o corpo quer absorver o conteúdo do cartão de Natal. Uma ansiedade lhe brota no peito, flutuante e envolvente, como se deseja um carinho depois do ato de amor. Então, pousa o envelope na cama. Abre um bauzinho, com o cuidado de sempre, não diz nada e mergulha em pensamentos – “Um dia ainda aprenderei a falar inglês!”

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