sábado, 1 de janeiro de 2011

Gata borralheira


Na chapa do fogão à lenha, há uma de lata de óleo usada como chaleira - Usam-na diariamente. Fervem água para o café e o feijão.
Mas, às vezes, tia Maria resmunga: “Esta gata andou chafurdando o fogão ontem à noite!” e retira a cinza espalhada por todo lado.
Há um armário de madeira tão antigo que mamãe comenta ser herança de meu avô paterno, as portas não se fecham mais... E dentro dele vive mexendo essa gata que apareceu lá por casa.
_Este bicho peludo deu agora de mexer nas cinzas do fogão... _ Reclama tia Maria.
A gata, deitada embaixo da mesa da cozinha, olha pensativa. Há uma calma na cabeça sobre as patas. E os pelos macios e longos caem como cabelos por cima dos olhos.
Tia Maria debruça-se no fogão e põe mais lenha. “Esta chaleira está velha e preta de fuligem!” E continua: _E esta gata preguiçosa? Se hoje a noite ela vier mexer nas cinzas do fogão, eu a esfolo no próprio borralho!
Era uma mulher de uns cinquenta anos... Meu pai dizia que vovô Zeba a criara desde pequena, não tinha nem conhecido a mãe. E se havia algo que eu sempre tive certeza é que tia Maria não fazia mal a uma mosca...

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